Lidando com o desapego

Não assista e nem leia Marie Kondo, é o conselho que lhe dou. As consequências são terríveis, rsrsrsrs
Desde o inicio da pandemia e da quarentena comecei uma arrumação em casa, primeiro as gavetas. Todas gavetas estão arrumadas, ou quase, faltam as da mesa do escritório. Ao fazer essa arrumação nas gavetas já exercitei o desapego. Separei aqueles itens para doação e joguei outros fora. Complicado. É um misto de sentimentos. 
Passei para os armários da cozinha. Diga: por que juntamos dezoito canecas se podemos usar apenas uma de cada vez? Como se desfazer do excesso? Por que ficar acumulando tudo isso? Qual delas descartar? Ahhh consegui abrir mão de várias coisas. Arrumei os armários, sobrou espaço. Ainda tem coisas que preciso descartar na cozinha, mas fica para uma próxima oportunidade. 
Passei para o guarda roupa, terminei de ler o livro "A mágica da arrumação" e comecei a ler o "Isso me traz alegria"   da mesma autora e aprendi a dobrar roupas de modo diferente. Como meu armário tinha apenas prateleiras, decidi fazer algumas caixas como se fossem gavetas. Eu tinha guardado o papelão que embalava o meu fogão novo e rendeu quatro gavetas, sob medida! Armário parcialmente arrumado, preciso praticar o desapego nele, está na espera. 
E aí chegamos aos livros... 
Meu Deus, que dificuldade! Os livros de direito acumulados desde o inicio da faculdade. Tenho plena consciência que livros de direito ficam desatualizados de um ano para outro, ou até no mesmo ano, decretos assinados, leis revogadas, e desatualização... Mas alguns livros foram publicados no ano passado! Livros que não utilizo, servem para empoeirar, ocupar espaço, mas são minha história. A japonesa da arrumação diz que se já lemos o livro, dificilmente vamos reler, e se não o lemos até hoje, não iremos ler. Ela tem razão... em partes. Eu costumo reler. Mas os livros que estão desatualizados e não são parte do meu cotidiano não tem sentido ficarem guardados. 
Primeiro eu arrumei a estante, organizei os livros, separei aqueles que estavam desatualizados e aqueles que não eram da minha área de atuação. Passei no sebo e falei se interessava, o primeiro disse que não, que no máximo queria livros de dois anos de publicação. Passei em outro e ele disse que viria aqui em casa para ver os livros. E veio. Meu Deus, que momento terrível. Ele foi pegando, separando, deixando outros como se fossem tão insignificantes. Parecia que estava escolhendo as laranjas na banca da feira. Separou uma pilha e eu me senti conspurcada, violada. E disse o valor que poderia pagar por eles, nem me atrevo a dizer o valor, pois o que ele ofereceu não era nem o valor de um deles!!! Ou seja, levou vários livros pelo preço de um deles. Me senti aviltada. São três dias que estou sofrendo. Não sei se meu sofrimento é pelos livros em si, pelo preço/valor, ou pelo modo como ele pegando, manipulando, desmerecendo os meus livros. Ou se a minha dor é por eu ter traído os meus livros, abrindo mão deles e deixando eles serem levados, sem nem uma despedida a altura. Que drama! na sexta feira mal conseguir dormir, a culpa me consumindo. Cheguei a sentir uma dor física mesmo. O estomago chiou muito.
No sábado outra reflexão: quanto dinheiro gastei com livros que nem foram tão utilizados assim. Em alguns anos eu gastei mais em livros do que em roupa. Acredito que até hoje, ou até ontem, gastei mais em livros. Mas o fato é que energia tem que circular, não se pode deixar os livros aqui "aprisionados" desatualizando-se, melhor que sirva para alguém. Agora que desabafei talvez possa ter uma noite melhor. 

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