Transição - Transição Capilar






Transição; eita palavrinha que anda na moda. O que é transição? A grosso modo transição significa passagem. A passagem do velho para o novo. Mas transição não é a passagem imediata e definitiva. É um processo que pode ser psicológico, físico, mental, espiritual ou tudo junto e misturado. É um processo pelo qual pessoas precisam passar para poder mudar as circunstâncias que creem necessárias. É uma reorganização e principalmente a aceitação e ressignificação. O processo da transição é complexo e demorado, envolvem vários aspectos. O mais importante é a motivação. O que quero e porque eu quero.

As mudanças podem ser externas, física: “transição capilar”, por exemplo, só quer mudar o cabelo, será? Fazer essa transição não é uma coisa simples, envolve muitos pontos a serem vistos com carinho, analisados e trabalhados. Eu passei por uma transição capilar recentemente, decidi que ia parar de pintar os cabelos. Não é simplesmente “vou parar de pintar”, não... é bem complexo. Tive que analisar vários fatores: por que eu quero? Quando eu quero? Quero mesmo? Estou preparada para assumir as minhas cãs? (essa palavrinha é do tempo que eu adorava fazer palavra cruzada).

Outras questões são: Estou preparada para lidar com o preconceito? Sim... Esse preconceito existe e tem até nome: “Etarismo”[1] ou “ageismo”[2]. E ainda tinha outro aspecto relacionado a esse, as pessoas, com as melhores intenções, começam a criticar e dizer que não estamos nos cuidando, que precisamos pintar, que nossa aparência esta envelhecida, doente e por aí afora. Acredito que não é por maldade, mas as pessoas já tem grilos suficientes na cabeça, e estão lidando com eles, e as pessoas de fora não ajudam muito...

Bom, decidido, vou deixar de pintar e fazer a transição. Pensa que é fácil? Nãoooo, o cabelo cresce em câmera lenta e quando deixamos de pintar aparece aquela faixa branca e que dá uma aparência feia. E continua, a faixa vai aumentando, aumentando lentamente e aí mora o perigo. Toda a nossa determinação pode ir por água abaixo quando nos olhamos no espelho e começamos a perder a paciência. E haja paciência. São meses de luta diária para se manter firme no propósito, e acrescente a isso a opinião alheia, que invade, se imiscui na nossa vontade insidiosamente.

Vamos aos cortes, eu comecei a minha transição capilar em fevereiro de 2020, logo em seguida veio a pandemia. Por um lado, foi bom, pois tendo que ficar enfiada dentro de casa foi mais fácil, mas por outro lado foi complicado, como cortar? Lembremos que os cabelereiros estavam fechados devido à crise sanitária, então vamos cortando o cabelo no banheiro de casa, olhava no espelho e cortava um pouco. Mais um pouco. E mais um pouco...

Minha cabelereira e amiga começou a me atender privadamente, com todos os cuidados, ela cortou meu cabelo várias vezes. Acredito que devo ter cortado umas quinze vezes entre os meus cortes autônomos e os feitos por ela, isso no espaço de um ano. E para efetivar a transição, um último corte radical que deixou bem curtinho, bem mesmo.

Voltemos à questão da transição, seja ela qual for, será que é apenas mudar o cabelo? Não entendo que seja uma mudança física, externa. É uma mudança de parâmetros, de crenças, de atitudes. É mudar os nossos conceitos e preconceitos. É assumir uma nova postura diante da vida. No caso, não vou pintar mais os cabelos, vou assumir as minhas cãs, o meu cabelo grisalho. E é interessante observar porque as pessoas tem tanto preconceito com as mulheres grisalhas, por que não tem com os homens? Prestem atenção nas conversas: O homem fica charmoso com cabelo grisalho, a mulher desleixada. Esquisito não é verdade? Ainda mais quando percebemos que para manter o cabelo grisalho apresentável é necessário um shampoo desamarelador de vez em quando, os cabelos precisam de cortes assíduos para manter os fios alinhados, ou seja, geralmente os cuidados dispensados aos cabelos grisalhos femininos são maiores do que o dos homens.

Cortei novamente essa semana, o cabelo está bem curtinho, grisalho e desalinhado. O cabelo curto e grisalho é totalmente rebelde, ele fica do jeito que ele quer, e cabe a nós aceita-lo do jeito que é e ponto.

E aí converso com minha sobrinha por vídeo, ela tem cinco anos. Falamos de cabelo, ela está com tranças azuis e rosa e eu comento com ela que logo, logo estarei careca e ela vira e pergunta: “você está com câncer?”



[1] Etarismo é a discriminação contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos associados à idade.

[2] O termo ageísmo, criado em 1969 pelo médico psiquiatra Robert Bluter, tem origem de ageism, palavra que deriva de age, que traduzimos para idade. O ageísmo define, portanto, uma forma de desrespeito relacionada à idade por meio de condutas discriminatórias — voluntária ou involuntariamente — com pessoas idosas.

Comentários

  1. Nossa nunca tinha vindo aqui nesse seu espaço, se hj sem querer aqui estou, já tem 3 meses que não pinto meu cabelo também resolvi fazer a transição, e uma coisa que eu disse essa semana para uma amiga foi exatamente sobre, o que dizem do cabelo do homem e da mulher, e TD isso mesmo que estou sentindo e passando agora, mas vamo que vamo..

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  2. Nossa nunca tinha vindo aqui nesse seu espaço, se hj sem querer aqui estou, já tem 3 meses que não pinto meu cabelo também resolvi fazer a transição, e uma coisa que eu disse essa semana para uma amiga foi exatamente sobre, o que dizem do cabelo do homem e da mulher, e TD isso mesmo que estou sentindo e passando agora, mas vamo que vamo..

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