Acreditei que seria por quinze dias
I believed it would be for a fortnight
Sim, eu realmente acreditei que seria por quinze dias.
# Quando ouvi a primeira vez sobre o coronavírus julguei ser uma gripezinha e que as pessoas estavam exagerando, qualquer coisa como “teoria da conspiração”. Como no 11 de setembro lembro da cena, eu estava no parque das águas em São Lourenço, a passeio, na companhia de uma professora que conhecera no dia anterior, ela comentou sobre o vírus e eu acreditei que ela estava impressionada à toa. Quem dera eu estivesse certa, mas não estava.
Algum tempo depois, melhor, uns dois meses depois, veio a notícia da declaração de pandemia da OMS e eu acreditei que seria por quinze dias que ficaríamos observando o desenrolar da história para comprovar que não tinha tanta gravidade.
Nesse meio tempo comecei a ficar com receio, mas isso não me impediu de ir ao banco de sangue doar, imaginei que nessa situação, meu sangue pudesse ser útil a alguém. Eu fui doar bem na troca de plantão e haviam varias pessoas aguardando em uma sala pequena, inclusive quatro médicos que acabaram de sair do trabalho e iriam doar para uma paciente. Achei bonita a atitude.
Estávamos em oito pessoas em uma sala pequena, todos sem máscaras. Ainda não havia a recomendação de uso. Doei o sangue e voltei para casa.
As notícias começaram a ser tornar mais graves nos dias seguintes. Lembro que se intensificaram as mortes na Itália e na Espanha e eu fiquei chocada, quatrocentas mortes por dia! Que horror!
# Adoeci: Comecei a sentir uma dor de cabeça bem chata, foram cinco dias de dor de cabeça, como não costumo ter, me incomodou bastante. Junto a isso, um cansaço horroroso, não conseguia ir do banheiro até o quarto sem precisar parar na sala e sentar um pouco. No entanto, não associei a nada.
No sábado a noite tive um febrão, coisa estranha para mim. Precisei levantar e tomar banho morno para forçar a baixar a temperatura corporal. Fiz um chá de limão, daqueles de mãe e tomei com um paracetamol. Suei a noite inteira. Acordei com a roupa de cama molhada, tive que levantar e trocar.
Senti medo. Medo de piorar e ter que ir para um hospital e ficar sozinha. Morrer sozinha deve ser muito chato.
No dia seguinte, estava sem febre, mas cansada e respirando com dificuldade. Na segunda-feira perdi o olfato. Não tive mais dúvidas, era o COVID-19. Perder totalmente o olfato de um dia para outro, não encontrei explicação mais satisfatória e consoladora. Tive vontade de chorar, mas não chorei, ia faltar mais ar, melhor evitar.
Nesses três dias, segunda, terça e quarta, senti muita falta de ar. É diferente, enche-se o peito de ar e os pulmões não absorvem. Passei as três noites quase em claro, auto aplicava Reiki e cochilava sentada na cama e me comprometi que se até na quinta-feira eu não melhorasse, iria para o hospital, o que para mim, nessa altura do campeonato era de fim de linha.
# Melhora: Graças a Deus, na quinta-feira comecei a melhorar, os 14 dias que estavam falando era certo.
Estudei muito sobre o vírus durante esse tempo todo. Comecei a entender como ele agia no corpo e pensava que se o vírus atava as células e os anticorpos produzidos pelo corpo não conseguiam identificar direito e atacavam as próprias células, então eu tinha que orientar meu cérebro a instruir os meus anticorpos a atacarem os vírus. Tudo bem pensarem que sou esquisita… Contudo, é racional. Quem comanda os anticorpos? O cérebro, quem comanda o cérebro? Eu, simples assim. Se comando o cérebro, então comandaremos direitinho. Meu corpo respondeu positivamente, os anticorpos venceram a batalha contra o vírus e eu me recuperei.
O olfato é que demorou mais, foram quase três meses sem sentir nenhum cheiro.
# Dezessete meses depois estamos aqui, com vacinas, máscaras, distantes das pessoas que gostamos e sem saber quando tudo isso acabará. Era para ser quinze dias, eu acreditei que seriam quinze dias! Já foram mais de quinze meses!
E de tempos em tempos temos notícias das variações e mais doentes, mais novidades desagradáveis.
#Quantos mais quinze dias serão necessários para que esse vírus seja enfim controlado?
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