O que é, realmente, importante nessa vida?
Há algum tempo, um amigo, advogado, (o qual vou nomeá-lo como Dr. Antônio), me contou uma história que aconteceu no condomínio em que reside. O porteiro o procurou para lhe perguntar se ele conhecia dona "Eleonora[1]" a moradora do 701, pois estavam tentando encontrar informações a respeito dela. Ele respondeu que não a conhecia e o funcionário começou a lhe contar a respeito.
Pois bem, a senhora Eleonora, uma aposentada, de oitenta e
poucos anos morava sozinha e aparentemente não tinha ninguém na vida, pois
nunca recebera visita nos mais de dez anos que morava ali.
Ela costumava sair diariamente para comer um lanche na
padaria vizinha e nos últimos dias não descera. Acharam estranho e o porteiro
interfonou várias vezes sem resposta. Chamou o síndico e juntos foram até a
residência da idosa e a encontraram caída no chão, chamaram a ambulância e a
levaram para o hospital.
Nos dias que se seguiram, o síndico e o Dr. Antônio,
procuraram no apartamento algo que pudesse ajudar a localizar parentes da
senhora. Não encontraram nada a não ser várias contas de luz não pagas,
geladeira vazia, sujeira e o mais interessante: extratos bancários com
aplicações de quase um milhão de reais.
Meu amigo, com o síndico foram ao hospital para ter notícias
da moradora do prédio, já que o hospital se recusou a dar notícias por
telefone. Presencialmente, o hospital voltou a negar notícias, já que eles não
eram parentes. Ele conversou com a assistente social do hospital e esse recusou
a dar informações, ele argumentou, contou toda a história e o funcionário não
cedeu. Conversou com a direção do hospital que se manteve irredutível, não
informando nada a respeito da situação clínica da idosa.
Dias depois, o hospital entrou em contato com meu amigo
informando que a idosa havia falecido e que "alguém" deveria
providenciar o enterro. O Dr. Antônio foi ao hospital e a assistente social
disse que ele deveria providenciar o reconhecimento e o sepultamento da
senhora.
Ele argumentou que não era "parente" e que não
tinha obrigação nenhum de providenciar, afinal se o hospital tinha se recusado
a dar informações alegando essa condição, como o procuravam agora para resolver
a situação?
Resumindo, depois de várias discussões, o síndico do
condomínio providenciou o enterro, pois não foi encontrado nada em relação a
amizades e parentes.
Por que estou contando essa história?
Porque ela mexeu comigo.
O que é realmente importante nessa vida? A senhora tinha
quase um milhão de reais em aplicações e um apartamento e não tinha ninguém
para fazer o enterro dela, precisou de que o síndico do prédio providenciasse.
É triste isso, muito triste. O que lhe adianta ter dinheiro, ter imóvel e não
ter relacionamentos?
E pior, no caso dela, esse dinheiro e o imóvel é bem capaz
de virar herança jacente, pois nem herdeiros apareceram até agora.
O que é, realmente, importante? Vejo tantas pessoas
renunciando a conviver com outras, optando em ganhar dinheiro, dedicando-se a
construir um patrimônio físico e financeiro e deixando de lado o patrimônio
emocional, familiar. Será que vale a pena?
Será que vale a pena abdicar se ser feliz por questões de
menor importância?
Essa senhora tinha quase um milhão de reais em investimentos
e não teve um afago nos seus momentos finais.
Comentários
Postar um comentário