Ser diferente, vantagem ou desvantagem?

 


 

O ser diferente é complicado, muito complicado...

Quando se segue a manada, é igual aos outros, passamos despercebidos, estamos inclusos no bando, não oferecemos ameaças. No entanto, quando diferimos, o riso é grande. O risco de ser excluído do bando existe e é presente. As pessoas começam a evita-lo como se pudessem ser contaminadas.

Interessante que qualquer coisa é motivo para ser o diferente. Tenho vasta experiência nesse quesito.

Lia muito quando criança, consequentemente meu vocabulário era bem maior do que o das outras crianças, o que acontecia? A chamada CDF era excluída, não fazia parte da massa. Somente era requisitada quando poderia ser útil, quando poderia dividir seu conhecimento, ou seja, passar cola nas provas. Interessante que nessas situações todos queria sentar perto de mim na sala de aula.

Era órfã de mãe, excluída também. Quando as outras pessoas não sabem lidar com a exceção, elas excluem automaticamente.

Nem preciso falar que o fato de ser gordinha, a criança diferente do restante pelo corpo foi motivo de exclusão na infância e principalmente na adolescência. Qual garoto vai se aproximar da gordinha quando a regra é menina magrinha? Quem chamará para praticar alguma atividade física, algum jogo quando você não se enquadra no biotipo? Bailinhos? Quem quer dançar com a gordinha e ser alvo de gozação? Namorar? Só se for escondido: ninguém pode saber, tá legal?

Coloquei-me como exemplo, mas são tantas situações.

A moça que usa hijab, a portadora de qualquer deficiência física, o asiático, e não é porque haja maldade, constato que as pessoas não sabem lidar com as diferenças.

Não fomos ensinados a interagir com o diferente.

O diferente assusta.

Lembro de certo dia, quando fui assistir a filme no shopping e olhei na fila do cinema e a maioria das pessoas, jovens, estavam vestidos no mesmo estilo. A massa igualzinha.

Antigamente, jovens que ousassem colocar uma minissaia eram agredidas verbalmente e até fisicamente pelos familiares, “moças direitas” não podiam usar esse tipo de roupa, mostrando tudo. Hoje vemos mulçumanas que escolheram cobrir o corpo com vestimentas recatadas serem atacadas na mesma proporção. Como se elas não tivessem o direito de serem diferentes, de escolherem ser diferentes.   

Observo esse comportamento contra o diferente mais presente desde que parei de comer carne. Parece que estou agredindo as pessoas com a minha decisão. Questionam, tentam de todas as formas me “demover” da minha escolha:

“E a proteína?”, “Vai ficar doente.”, “Vai comer o que?”, “Vai comer mato?”, "Plantas também são vivas, então você não pode comer.", "Uma vez eu fiquei uma semana sem comer carne e...", "Mas nós somos onívoros, nosso organismo é feito para comer carne.", "Azar o seu! Você não sabe o que tá perdendo.", "Os animais já estão mortos, é até desperdício não comer.", "Você não tem vontade quando sente cheiro de churrasco?", "Fala só pra mim, você come escondido de vez em quando?", "Não dá anemia?", "Não dá fraqueza?",  "E se alguém te desse R$ 1 milhão pra comer um bife, você comeria?"

A intenção é fazer com que volte ao bando, volte para o grupo. Quando percebem que não voltarei atrás, mudam o comportamento comigo e me “excluem”. Não voltará para o grupo? Então fique aí com sua escolha!

Nem entrarei nas prováveis polêmicas sobre as diferenças de cor nas pessoas, diferenças políticas, diferenças de gosto, de sexo, de gênero. E por aí afora. Somos tão diferentes, inclusive gêmeos, nascidos da mesma placenta, criados juntos, são diferentes.

Mas já pararam para pensar em como o mundo seria chato se todos fossemos iguaizinhos, como linha de montagem?


Comentários

  1. A sociedade odeia diferenças, e por isso mesmo me afasto cada vez mais dela.

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  2. Caríssimo(a), não devemos nos afastar, temos direito ao nosso espaço. Os que não conseguem conviver com os diferentes é que devem se conscientizar que há lugar para todos. Um abraço.

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