Qual a sua opinião sobre a opinião? Essa é a minha.
Lembro de um psicólogo, irmão de uma amiga de adolescência
que me ensinou que para formar uma opinião sobre uma notícia, deveríamos ler
quatro jornais diferentes, ler e interpretar os textos divergentes e só a
partir daí, formar a nossa opinião sobre o assunto. Foi um dos melhores
ensinamentos que tive. Talvez a motivação para a pesquisa tenha vindo desse
conselho.
Claro que temos nossas preferências, nossas paixões por
determinados assuntos, o que nos faz emitir opiniões imparciais, mas o ideal é
que deixássemos de tomar partido e olhássemos de cima, de fora, o assunto.
As pessoas tendem a opinar sobre assuntos complexos como se
a experiência própria, limitada, pudesse lhes conferir algum tipo de
especialidade.
Lembro-me de um caso ocorrido no hospital que trabalhei em uma
época da vida, desceu para o necrotério um rapaz chinês de uns 20 anos tendo a
causa da morte a síndrome de Stevens-Johnson. A doença é considerada rara, atinge
a pele e as mucosas devido a uma reação após o uso de medicamentos. A impressão
é que a pessoa foi mergulhada em óleo fervente, causando bolhas. É tratável,
mas algumas não resistem, caso desse rapaz que viera da China recentemente e
nunca havia tomado medicamentos alopáticos.
O jovem estava em um grupo de colegas de trabalho que
jogavam baralho e reclamou que estava com dor de cabeça e um deles deu a sua
opinião: tome um comprimido e outro falou, tenho aqui um. Foi o suficiente.
A opinião foi dada com a melhor das intenções, e o que deu o medicamento,
também.
Tenho por mim, que mesmo a opinião quando solicitada, é
muito perigosa. Sua amiga descobre que o marido está lhe traindo e pede sua
opinião, e aí? Falará para ela se separar? Complicado. E se ela decidir
continuar junto, como você fica na história? Falará para ela perdoar? E se
ele apronta pior, como ficaremos?
Penso que as pessoas querem opinar para alimentar o próprio
ego. Posso me incluir nesse ponto, sei que opinei muitas vezes para mostrar que
detinha o conhecimento sobre o assunto, no entanto, é necessário mesmo que
demonstremos o nosso conhecimento?
Fiquei pensando no assunto, opinião, após ler a entrevista
do Gregório Duvivier que disse ter horror a opinar e afirma nunca ter dado uma
opinião da qual não se arrependeu depois. Gostei da frase dele: “A opinião
imediata é muito perigosa. A gente vai correndo para o Twitter porque acha que
o mundo precisa daquela opinião. Só que ele não precisa”[1].
As pessoas tendem a acreditar que a opinião delas ajudará o outro, inclusive nos relacionamentos pessoais, utilizam a clássica frase: “na
minha opinião, você deveria fazer...” Mas se a pessoa seguir nossa opinião e
der errado, não será fácil suportar as consequências, principalmente se a
pessoa teve prejuízos.
Receber opiniões alheias é bem desagradável, ainda mais se não solicitadas. Ouvimos como se o emissor estivesse falando: “olha, eu sei mais do que você sobre isso” o que subestima a nossa capacidade de pensar, analisar e tomar decisões.
Pior ainda é quando verbalizamos nossa opinião, aconselhamos embasadas em estudos e a pessoa não abraça a sua opinião e se dá mal. Jamais diga: eu avisei. Por outro lado, a pessoa fica constrangida em ter que admitir que você estava com a razão e o clima fica ruim.
Simplificando, por todos os ângulos, opinar é desnecessária.
Estou aprendendo a manter a minhas opiniões guardadas, mesmo
quando pedidas, não é fácil, o ego grita mais alto. Estou tentando.
E você, qual a sua opinião sobre a opinião?
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